Obscuritas Diagnostici
– “Vanessa, a sua mãe tem uma doença degenerativa nos olhos e vai ficar cega.”
Em meio às lágrimas, a minha querida mãe compartilhou comigo o cruel veredito de seu oftalmologista.
De mãos dadas com meu pai, minha mãe recebeu esse fatídico diagnóstico há pouco mais de um ano.
Eu asseguro a você que essas são palavras muito difíceis de aceitar, palavras ditas por um médico respeitado, em uma clínica oftalmológica de renome aqui em Salvador/BA.
A busca por resignação diante do infortúnio se abateu sobre minha mãe. Foram meses de tristeza, ansiedade e muitas lágrimas vertidas.
Imagine o sentimento de saber que um dia apenas a escuridão prevalecerá, que você não mais verá o sol, o rosto do seu neto, do seu esposo e dos seus filhos … que notícia cruel, antecipando espera de um futuro certo com o qual você será forçado a conviver, mas sem saber quando.
Desde esse diagnóstico, minha mãe passou a monitorar o quadro com diversos exames e a utilizar diariamente quatro cápsulas de um medicamento muito caro, prescrito por Dr. Rodrigo, o seu médico de confiança, na esperança de retardar esse desfecho cruel.
Sendo muito sincera com você, anos atrás eu atendi no consultório uma senhora com a mesma idade que a minha mãe tem hoje, e ela teve o mesmo diagnóstico, tendo procurado a psicoterapia após começar a perder a visão.
Imagine a minha situação, se o acompanhamento dessa paciente foi algo que teve impacto para mim, imagine o meu sentimento ao ver a minha própria mãe receber a mesma previsão.
Posso assegurar que essa experiência é muito angustiante.
Diagnosis Erratum
Passado pouco mais de um ano, na semana passada, finalmente consegui convencer a minha mãe a consultar um oftalmologista especialista em retina e agendei a consulta na expectativa de encontrar um tratamento mais eficaz.
Como profissional de saúde, eu busquei o local de maior referência da cidade, o HCCL – Hospital Humberto de Castro Lima, e acompanhei minha mãe na consulta com o Dr. André, o coordenador de retina do hospital e preceptor da residência em oftalmologia.
Poucas vezes vi um médico com uma comunicação tão clara, acessível e sincera quanto a de André e isso me surpreendeu.
Ele foi dinâmico e extremamente assertivo o tempo todo. Tirou as nossas dúvidas, discutiu o diagnóstico, explicou detalhes sobre opções de tratamento, e, após saber que sou psicóloga, modulou a comunicação quando se dirigia a minha mãe e a mim.
Você deve imaginar o quanto essa habilidade de comunicação faz completa diferença para o paciente e seus familiares. Inclusive esse tipo de comunicação é um tópico que reforço constante com os alunos na Formação em Psicopatologia.
Pois bem, o mais importante dessa consulta foi a descoberta mais surpreendente da minha vida: segundo Dr. Andre, um profissional altamente capacitado e atualizado, aplicando os parâmetros clínicos especializados e mais atualizados, declarou que a minha mãe não precisa fazer uso daquelas vitaminas, ou seja, aquele tratamento caro e desgastante com 4 capsulas diárias não se aplica ao caso dela.
E fomos ainda mais surpreendidas quando, ao olhar os exames de imagem que ela fez um ano atrás, Dr. André proferiu:
“esses exames mostram que a senhora não tem risco de ficar cega, ao menos não mais do que eu, sua filha ou qualquer outra pessoa”.
Silêncio no consultório ! Lágrimas de felicidade. Um alívio absurdo nos preencheu no mesmo instante. Uma descarga imensa de energia percorreu a minha espinha dorsal. Minha mãe não corria risco de ficar cega ! Eu fiquei extremamente grata pelo conhecimento profundo daquele homem, um profissional que permanece comprometido e atualizado.
A família inteira celebrou e eu agradeço a você por também ter sentido esse alívio agora, ao ler esse desfecho.
Nesse ponto quero compartilhar com você uma reflexão muitíssimo importante, talvez a mais profunda da sua vida profissional: imagine quantas pessoas já passaram por você ou por outros psicólogos e psiquiatras com diagnósticos equivocados, diagnósticos desatualizados ou pior, sem uma avaliação adequada.
Imagine quantos pacientes e familiares estão vivenciando essa mesma angústia, sendo acompanhados por anos por “bons profissionais de confiança”, quantos psicólogos e psiquiatras bem intencionados existem por aí, mas que não buscam atualização profissional, não estudam baseados em publicações recentes, não entendem como os sintomas vem se apresentando de formas diferentes nas últimas décadas.
Eu desejo do fundo da minha alma que você não queira ser como o “bom Dr Rodrigo”, aquele que é atencioso e bem intencionado, mas que deixa seu paciente em sofrimento por não investir em atualização ou por querer abraçar todos os tipos de demandas e não dar conta de aprofundar os estudos.
Entenda de uma vez: o mundo está mudando, a apresentação dos sintomas está mudando, novos parâmetros no campo da saúde mental foram recentemente publicados e somente os profissionais mais atualizados e comprometidos vão conseguir entregar aos seus pacientes aquilo que eles realmente precisam: diagnóstico diferencial, com ética e segurança técnica.
A realidade atual dos nossos pacientes mostra que psicólogos e psiquiatras precisam cada vez mais de uma Formação em Psicopatologia que seja sólida, atualizada e que contemple o tripé da semiologia, nosologia (CID-11 e DSM-5-TR) e diagnóstico diferencial.
Eu tenho o compromisso de me tornar uma profissional cada vez melhor, assim como o Dr. André, e quero ter ao meu lado uma comunidade forte de psicólogos e psiquiatras realmente comprometidos em construir a vanguarda do novo cuidado em saúde mental no Brasil, um cuidado humanizado, mas também técnico e atualizado, que pode ser aplicado independente de abordagem teórica ou área de atuação.